Oldney Lopes - Poesia
"Pois que então tento entender do ser e do não ser qual a questão" Oldney Lopes
segunda-feira, dezembro 05, 2016
domingo, junho 27, 2010
sábado, junho 26, 2010
PÍNCARO
PÍNCARO
De repente ela havia ficado em dúvida entre a cama e a mesmice. E enquanto tremia de ansiedade e nervosismo e medo do desconhecido e intuição de alguma inesperada ameaça, foi deixando-se levar e levada descobriu que a cama era nuvens, e simplesmente abandonou-se a um mágico flutuar. Marejava gotículas orvalhadas de prazer e então parou de se intimidar e permitiu-se sedar e abrandar e acaridar e acirandar e trepidar e transbordar... Sonhadora, submergiu no lago da noite dos contos de fadas e não queria mais acordar. Ofegante, subiu ao cimo de uma cumulus nimbus da qual não desejava mais sair, mas teve que descer. Quando voltou para a vida real, era peso de chumbo nos ombros e aperto no peito e a força da gravidade a grudá-la no chão que lhe faltava. Era ânsia e tremor no coração, e letargia e temor na mente, e a gravidade daquele enjôo e daqueles séculos de atraso. Foi assim, tremendo e temendo, que atravessou vazios como se estivesse despencando num abismo até o baque do tremendo susto: o teste gritava aos seus olhos o que a alma recusava-se a imaginar. Procurado, o príncipe virou sapo, e depois monstro ameaçador, e depois pessoa desaparecida. O rei que era todo desvelo pela princesa transfigurou-se num Gigante Adamastor e renegou-a. O lar de aconchego e segurança tornou-se ambiente inóspito e hostil. Quem disse que precisa sofrer e se acabar porque tudo vai mal e já não há amor e já não há proteção e já não há família e já não há lar? Quem disse? Chorou sim, rios de lágrimas que viraram mares de superações e de super ações. Pois se já não há lar, que se ouse alar. E foi sozinha mesmo, foi fora de casa mesmo, foi de abrigo em abrigo mesmo, de amigo em amigo mesmo, que transpôs quarenta luas de atávicos desejos e absolutas convicções e persistências para elevar-se à constelação das estrelas que brilham para sempre e encantam a vida da gente por serem mais que gente, mais que todo mundo, mais que todos os mundos e todas as luas, por serem simplesmente mais. Por serem simplesmente mães.
Oldney Lopes©
sábado, maio 22, 2010
MEA-CULPA
MEA-CULPA
Insensato no que digo, eis meu inferno,
Impetuoso na forma em que me expresso
Vou morrendo nos rompantes em que externo
Meus recônditos anseios, meus excessos.
Por guardar dentro do peito um sentimento
Um desejo de tamanha intensidade
Foi que cedi à insensatez, num vil momento,
E me matam minha culpa e veleidade.
Morro ainda mais por arrependimentos
Do que pelos sentimentos que me instigam
Duelam, dentro de mim, dois pensamentos
De ternura e de avidez que sempre brigam.
Vou, sem corretivos que desfaçam gestos,
Engolindo o fel deste arrependimento
Digerindo os erros, deglutindo os restos
Da perversão que engendrei e ora lamento.
Pois não há qualquer pedido de perdão
Que logre justificar o que foi feito
Nem borracha que desmanche um tal borrão
Nem lenitivo que me sane a dor do peito.
É na tolice já feita que reside
A vergonha que encarcera-me e devora
A luz que já brilhou, e turba-me a lide
Em que o ontem vai tragando o meu agora.
Foi movido por paixão inveterada
Por intenso turbilhão excitativo
Que irrompi verbologia imoderada
E sou presa da recordação que vivo.
Eu cravei no sonho lânguido um punhal
Que me leva a cometer, entristecido,
Suicídio de um romance angelical
Que no meu peito jazeu sem ter nascido!
Oldney Lopes©
quinta-feira, maio 13, 2010
ORAÇÃO DO ABRAÇO
Há braços fortes para que se dê
Abraços fortes entre outro e você.
Abrace sempre, e haverá de ter
De Deus abraços a lhe proteger.
Unamos, nos abraços, os vigores,
E nos abraços repartamos dores.
É neste gesto de aproximação
Que coração bate com coração.
Que a cada dia brotem alegrias,
Nascidas dos abraços de amizade,
E a Paz abrace toda a humanidade.
Sejamos gratos por viver os dias
Num mundo encantador no qual há braços
Dispostos a unirem-se em abraços!
Oldney Lopes©
terça-feira, maio 04, 2010
MORRER DIVERSOS
Morri estando vivo no vazio
Pela idéia que já nasce bloqueada
É quando a mente, ansiosa, está no cio
E as mãos, pesadas, não escrevem nada
E morro ainda mais quando é estiagem
Que domina a minha alma desbotada
Sem solo fértil, sem qualquer aragem
Nenhuma idéia brota: a mente é nada
Não há receio de morrer um dia
Mas de viver sem rima e sem poesia
Pois morro é pelo que jamais vivi
Morro de idéias pra sempre perdidas
Morro de escritas que não serão lidas
Morro dos versos que nunca escrevi.
Oldney Lopes©
domingo, maio 02, 2010
CANTIGA DE BEMQUERER
(TRATADO DE ACORDAR)
Quero fazer com você
Um tratado de bem-querer
Negócio de amor e êxtase
Contrato de ser feliz
Eu te dou meu sentimento
Participo com sorrisos
Entro com afagos e beijos
Com minha alma apaixonada
O corpo pleno de anseios
E o coração de esperança
Entro com toda bondade
O tempo da eternidade
A suavidade das nuvens
O brilho de ouro do sol
Assim, se eu merecer
Você vai me amanhecer
Fazer da vida cinzenta
Tratado de a cor dar
Basta você me querer:
Levo todo o meu amor
Ofereço o meu licor
O vinho do meu prazer
Você participa de graça
Traz apenas sua taça
Pois tudo o que quero é você!
Oldney Lopes©
terça-feira, fevereiro 02, 2010
BEIJO
Lábios que tocam lábios, sutilmente,
Um breve instante em lampejos de emoções
Calor do encontro de dois corações
Imantados lábios, doce e ternamente,
A impregnar-me com seu doce, eternamente...
Oldney Lopes©
terça-feira, outubro 13, 2009
HOMENAGEM AO PROFESSOR
HOMENAGEM AO PROFESSOR
Se os livros alimentam o saber
O mestre proporciona-lhes sabor
Se são enigmas a resolver
O educador é o codificador.
Que seria do livro e do leitor
Sem orientador a despertar
Idéias e sentidos, corpo e cor,
Na relevante ação de mediar?
Se há na escola uma qualquer contenda
O docente é o reconciliador
Se há conflito que obstrua a senda
O mestre mostra-se apaziguador.
Que seria de uma escola sem docentes?
Salas vazias e paredes nuas
Prédio deserto, árido e silente
Portal do nada, a esmaecer nas ruas.
É que a jornada, sem apoio e guia
É trilha escura, sem norte e sem destino,
Pois falta o rumo da sabedoria,
Facho de luz, clarão para o ensino.
Sendo os alunos pássaros que tentam
Os seus primeiros vôos do saber
É pelas mãos dos mestres que alimentam
A fome insaciável de aprender.
Se, entretanto, as agruras são gaiolas
Que encarceram o aluno em estupor,
A porta que liberta é a escola
E a chave que a destranca é o professor!
Oldney Lopes©
Se os livros alimentam o saber
O mestre proporciona-lhes sabor
Se são enigmas a resolver
O educador é o codificador.
Que seria do livro e do leitor
Sem orientador a despertar
Idéias e sentidos, corpo e cor,
Na relevante ação de mediar?
Se há na escola uma qualquer contenda
O docente é o reconciliador
Se há conflito que obstrua a senda
O mestre mostra-se apaziguador.
Que seria de uma escola sem docentes?
Salas vazias e paredes nuas
Prédio deserto, árido e silente
Portal do nada, a esmaecer nas ruas.
É que a jornada, sem apoio e guia
É trilha escura, sem norte e sem destino,
Pois falta o rumo da sabedoria,
Facho de luz, clarão para o ensino.
Sendo os alunos pássaros que tentam
Os seus primeiros vôos do saber
É pelas mãos dos mestres que alimentam
A fome insaciável de aprender.
Se, entretanto, as agruras são gaiolas
Que encarceram o aluno em estupor,
A porta que liberta é a escola
E a chave que a destranca é o professor!
Oldney Lopes©
domingo, outubro 04, 2009
BALADA POR UM ANJO
BALADA POR UM ANJO
Não sei se é anjo em forma de mulher
Ou se mulher em vulto angelical
Mas venha ela de onde vier
Recende o espaço em vórtice aromal
Não sei se é dado a mim, mortal, tocá-la
Quando a luz dos seus olhos resplandece
Mas grita o coração, e a boca cala:
Mais fecho os olhos, mais ela aparece.
Não sei se é dado a mim, mortal, beijá-la
Posto ser anjo, inatingível ser
Não sei se me percebe se ouso olhá-la
Ou se ignora e finge não me ver
Nem sei medir o tanto que a desejo
O tanto que imagino seus afagos
O tanto que eu anseio por seu beijo
O tanto de amor que no peito trago
Por isso a canto em cântico elegíaco
Numa balada de ardorosa ausência
Por ela sou loução, insão, maníaco
Mas amo amá-la, mesmo na demência.
E faço deste cântico a esperança
De tê-la um dia, talvez, nos meus braços
E de embalá-la em envolvente dança
Cobrindo-a com meus beijos e abraços!
Oldney Lopes©
Não sei se é anjo em forma de mulher
Ou se mulher em vulto angelical
Mas venha ela de onde vier
Recende o espaço em vórtice aromal
Não sei se é dado a mim, mortal, tocá-la
Quando a luz dos seus olhos resplandece
Mas grita o coração, e a boca cala:
Mais fecho os olhos, mais ela aparece.
Não sei se é dado a mim, mortal, beijá-la
Posto ser anjo, inatingível ser
Não sei se me percebe se ouso olhá-la
Ou se ignora e finge não me ver
Nem sei medir o tanto que a desejo
O tanto que imagino seus afagos
O tanto que eu anseio por seu beijo
O tanto de amor que no peito trago
Por isso a canto em cântico elegíaco
Numa balada de ardorosa ausência
Por ela sou loução, insão, maníaco
Mas amo amá-la, mesmo na demência.
E faço deste cântico a esperança
De tê-la um dia, talvez, nos meus braços
E de embalá-la em envolvente dança
Cobrindo-a com meus beijos e abraços!
Oldney Lopes©
RAPSÓDIA PELA DEUSA PRIMAVERA
RAPSÓDIA PELA DEUSA PRIMAVERA
Julgou ser deus, o poeta, num dia,
Sonhou criar sua deusa perfeita
Fez o mais lindo rosto na poesia
E o mais perfeito corpo em sua eleita
Bordou em versos de paixão e sonhos
A musa imaginária mais formosa
Criou em sua face olhos risonhos
E na sua pele a maciez da rosa
A fez com tanto esmero e perfeição
Fulgurando e perfumando a atmosfera
Que deu o poeta à sua criação
O nome mais florido: primavera!
Mas eis que achando-se, ainda um deus,
Tomou a criação por sua amada
E descobriu que os sentimentos seus
Eram de amor pela deusa engenhada.
De repente, era um deus que viu-se escravo
Do grande amor à deusa que criou
Que, outrora, em veste de guerreiro bravo
Diante da própria escrita, fraquejou.
Queria tê-la inteira e em pessoa
Com tal intensidade a desejava
Mas seu anseio, resultando à toa,
Jazia na vontade, ao léu ficava.
E quando, enfim, adormeceu exausto
Sobre o papel, sobre o seu próprio tema,
Senhor da criação, excelso, fausto
Entrou, em sonho, em seu próprio poema.
E lá estava ela, envolta em flores
E dentre as flores era a flor mais bela
E recendindo aromas e sabores
Compunha cores nobres de aquarela
Tomou-a nos seus braços, loucamente
Cobriu-a com afagos e carícias
Amou-a tão febril e intensamente
Bebeu da amada todas as delícias
No mundo onírico e inebriante
Em que viveu a ventura de amar
Quis ter eternamente a nova amante:
Sendo deus, resolveu não despertar
Rasgou com decisão o seu poema
Aprisionou-se no sonho em que era
Dono da felicidade mais extrema:
Ter por amante a deusa primavera!
Oldney Lopes©
Julgou ser deus, o poeta, num dia,
Sonhou criar sua deusa perfeita
Fez o mais lindo rosto na poesia
E o mais perfeito corpo em sua eleita
Bordou em versos de paixão e sonhos
A musa imaginária mais formosa
Criou em sua face olhos risonhos
E na sua pele a maciez da rosa
A fez com tanto esmero e perfeição
Fulgurando e perfumando a atmosfera
Que deu o poeta à sua criação
O nome mais florido: primavera!
Mas eis que achando-se, ainda um deus,
Tomou a criação por sua amada
E descobriu que os sentimentos seus
Eram de amor pela deusa engenhada.
De repente, era um deus que viu-se escravo
Do grande amor à deusa que criou
Que, outrora, em veste de guerreiro bravo
Diante da própria escrita, fraquejou.
Queria tê-la inteira e em pessoa
Com tal intensidade a desejava
Mas seu anseio, resultando à toa,
Jazia na vontade, ao léu ficava.
E quando, enfim, adormeceu exausto
Sobre o papel, sobre o seu próprio tema,
Senhor da criação, excelso, fausto
Entrou, em sonho, em seu próprio poema.
E lá estava ela, envolta em flores
E dentre as flores era a flor mais bela
E recendindo aromas e sabores
Compunha cores nobres de aquarela
Tomou-a nos seus braços, loucamente
Cobriu-a com afagos e carícias
Amou-a tão febril e intensamente
Bebeu da amada todas as delícias
No mundo onírico e inebriante
Em que viveu a ventura de amar
Quis ter eternamente a nova amante:
Sendo deus, resolveu não despertar
Rasgou com decisão o seu poema
Aprisionou-se no sonho em que era
Dono da felicidade mais extrema:
Ter por amante a deusa primavera!
Oldney Lopes©
ORAÇÃO PELOS MEUS OLHOS
ORAÇÃO PELOS MEUS OLHOS
Sejam meus olhos cálidos cadinhos,
Crisóis plenos de amor e de bondade,
Sejam dois fachos de serenidade,
Iluminando o chão dos meus caminhos.
Sejam duas janelas para o mundo
A receber e transmitir lições
De aprendizado e de saber fecundo
De caridades e abnegações
Sejam luzes brilhando, dia-a-dia
Proporcionando-me a sabedoria
Do progresso e do labor eficaz.
E quem olhar meus olhos veja, assim
Fulgor do brilho que resplanda em mim
De apoio, de amizade, amor e paz!
Oldney Lopes©
Sejam meus olhos cálidos cadinhos,
Crisóis plenos de amor e de bondade,
Sejam dois fachos de serenidade,
Iluminando o chão dos meus caminhos.
Sejam duas janelas para o mundo
A receber e transmitir lições
De aprendizado e de saber fecundo
De caridades e abnegações
Sejam luzes brilhando, dia-a-dia
Proporcionando-me a sabedoria
Do progresso e do labor eficaz.
E quem olhar meus olhos veja, assim
Fulgor do brilho que resplanda em mim
De apoio, de amizade, amor e paz!
Oldney Lopes©
TEIAS E TRAMAS
TEIAS E TRAMAS
Enquanto o poeta escreve
Tece a teia leve e breve
Diversos fios de versos
De sonho e de fantasia
Lá num cantinho do teto
A aranha, feito arquiteto
Tece multifios tersos
Fazendo também poesia.
Mas vem um inseto incauto
Fica preso lá no alto
E num só golpe, um reverso,
A aranha o faz eupepsia!
É que a aranha, em sua trama
Constrói armadilha e cama:
Ardil lírico e perverso
De prazer, poesia e dor
E o poeta, no papel
Tece um pedaço de céu
Um recanto do universo
Onde faz presa o leitor...
Oldney Lopes©
Enquanto o poeta escreve
Tece a teia leve e breve
Diversos fios de versos
De sonho e de fantasia
Lá num cantinho do teto
A aranha, feito arquiteto
Tece multifios tersos
Fazendo também poesia.
Mas vem um inseto incauto
Fica preso lá no alto
E num só golpe, um reverso,
A aranha o faz eupepsia!
É que a aranha, em sua trama
Constrói armadilha e cama:
Ardil lírico e perverso
De prazer, poesia e dor
E o poeta, no papel
Tece um pedaço de céu
Um recanto do universo
Onde faz presa o leitor...
Oldney Lopes©
quinta-feira, julho 09, 2009
SONETO EM SI
Soneto em si e só por ser soneto
Sona sonoridades soa harpejos
Refulge nos quartetos e tercetos
Fulgor de cores esplendor de beijos
Soneto em si é sinfonia leve
Iridescente escala em si bemol
Mínima, pausa, allegro em semibreve,
Legatos, staccatos e arrebol
Num instrumento lírico em que a si
La ba sibila e brilha em tons diversos
Vai o soneto versejando e di
Ver si fi can do em rimas o universo.
Entoa a idéia em verso fulgurante:
Cada soneto em si é di-amante!
Oldney Lopes ©
Sona sonoridades soa harpejos
Refulge nos quartetos e tercetos
Fulgor de cores esplendor de beijos
Soneto em si é sinfonia leve
Iridescente escala em si bemol
Mínima, pausa, allegro em semibreve,
Legatos, staccatos e arrebol
Num instrumento lírico em que a si
La ba sibila e brilha em tons diversos
Vai o soneto versejando e di
Ver si fi can do em rimas o universo.
Entoa a idéia em verso fulgurante:
Cada soneto em si é di-amante!
Oldney Lopes ©
ROSA
Tão delicadamente se apresenta,
Orvalhada de aromas sedutores
Faz da flor do meu anseio alma sedenta
E se compraz em provocar-me agudas dores.
É como rosa, que com seu perfume
Desperta e exulta, insinua e atrai
Mas cobra amor e paga com ciúme
Aprisionando um ser que nunca a trai.
Que amor me oferta, se fico sozinho?
Que amor me dá, se nega-me carinho?
Um tal amor que esbofeteia e beija...
Tão traiçoeiro, sórdido e mesquinho,
Mostra-se pétala, se me deseja,
E quando me aproximo faz-se espinho!
Oldney Lopes©
CARTAS
O MENINO
A despeito da ditadura do relógio
E das rugas do espelho,
Insiste em viver.
Vez por outra,
Sai do CTI
E salta da maca da maturidade
Pulando, sorrindo, dizendo bobagens,
Fazendo molequices.
Outras vezes
Cai na opacidade,
Torna-se frágil
E desfalece diante da severidade
Do mundo e das pessoas.
Enquanto os antigos livros
Submergem no amarelecimento dos dias
O menino,
De vez em quando,
Traz à tona
Páginas novas, brilhantes, luzentes.
Depois volta a internar-se
No hospital das cínicas veleidades sociais.
Veste a capa da circunspecção.
Adoenta-se por não poder
Gritar seus anseios,
Viver seus desvarios,
Cumprir seus sonhos.
E volta ao coma...
Quando ressurge,
Confrontando-se comigo,
Percebo o quanto permanece sempre o mesmo.
E vejo que quem se esvai,
A cada dia,
Sou eu.
Oldney Lopes©
terça-feira, março 31, 2009
MENSAGEM DE PÁSCOA
MENSAGEM DE PÁSCOA
Páscoa não é só alegria
Páscoa não é só poesia
Páscoa não é só chocolate
Não é só amizade
Não é só amor
Páscoa é renascimento
Renascimento remete a repensar a vida
As condutas
A forma de lidar com as pessoas
A forma de lidar conosco
Renascimento remete à necessidade
De pensar nos problemas do mundo
De avaliar que todos os problemas são meus problemas
E são seus problemas
Renascer é ver que
Tudo o que eu puder fazer pelo outro
Eu devo fazer como se fosse por mim
Renascer é agir para mudar a cada dia para melhor
Como se cada dia fosse uma nova vida
Somente assim, renascendo a cada dia
E a cada instante,
E fazendo renascer em nós os sentimentos
Mais puros e fraternos para com nossos irmãos
Somente assim faremos da Páscoa
Alegria, poesia, chocolate, amizade e amor!
E que a Páscoa seja sempre Paz!
Paz!
PazCoa!
Oldney Lopes©
Páscoa não é só alegria
Páscoa não é só poesia
Páscoa não é só chocolate
Não é só amizade
Não é só amor
Páscoa é renascimento
Renascimento remete a repensar a vida
As condutas
A forma de lidar com as pessoas
A forma de lidar conosco
Renascimento remete à necessidade
De pensar nos problemas do mundo
De avaliar que todos os problemas são meus problemas
E são seus problemas
Renascer é ver que
Tudo o que eu puder fazer pelo outro
Eu devo fazer como se fosse por mim
Renascer é agir para mudar a cada dia para melhor
Como se cada dia fosse uma nova vida
Somente assim, renascendo a cada dia
E a cada instante,
E fazendo renascer em nós os sentimentos
Mais puros e fraternos para com nossos irmãos
Somente assim faremos da Páscoa
Alegria, poesia, chocolate, amizade e amor!
E que a Páscoa seja sempre Paz!
Paz!
PazCoa!
Oldney Lopes©
terça-feira, março 03, 2009
PRECE DE GRATIDÃO
(Oração das Eternas Manhãs)
Agradeço à vida pela manhã
Fábrica de sonhos e tempo de orvalho
Preparação do solo
Imaginação de trilhas, estradas, pontes, escadas
Fantasias e quimeras
Jornadas nem sempre possíveis
Alvos quase nunca acessíveis
Riquezas jamais tangíveis
Beijos e toques inocentes
Carinho
Agradeço à vida pela tarde
Seara de semeaduras
Tempo de sol intenso, temporais
Suor e cansaço
Buscas e lutas
Dulçores e amarguras
Decepções e realizações
Beijos e toques maliciosos
Paixão
Agradeço à vida pela noite
Templo da sabedoria
Tempo de suave brisa
Hora das mais nobres reflexões
Momento da colheita
Descanso merecido
Verdadeiro amor
E o beijo de Deus
Agradeço à vida por toda a vida
Por atravessar cada dia
Sabendo converter o travor das vaidades humanas
Na delícia do gosto das maçãs
E por transpor todas as semanas e meses e anos e séculos
Com os pés e a alma nas manhãs
E que cada superação ou resignação,
Cada aceitação,
Cada perdão aos semelhantes meus
Seja um beijo
Que a cada dia
Procuro dar em Deus...
Oldney Lopes ©
Brumadinho, 03 de março de 2008.
terça-feira, janeiro 15, 2008
FINGIDOR (Diálogo com Fernando Pessoa)
Todo poeta é mesmo um fingidor,
E finge cada fúlgido momento
Faz-se Pessoa em vida e em fingimento
Faz-se persona e finge a própria dor...
É por fingir que os versos que ele envida
Trazem no fingimento a realidade
A ponto tal que torna-se verdade
O fingimento, e fingimento a vida
É porque sonha na realidade
E outras realidades sempre inventa
Que finge tanto e tão completamente:
Na tentativa inócua da verdade
O coração obstinado tenta
Porém a mente obstinada mente...
Oldney Lopes ©
COTIDIANO
Todo santo dia,
O despertador me acorda
A cama me abandona
O banho me toma
A roupa me troca
O café me engole
O ônibus me pega
O engarrafamento me prende
O relógio me atrasa
O ponto me bate
O dólar me despenca
A bolsa me arrasa
A conta me cobra
O imposto me taxa
A raiva me fica
A notícia me lê
A história me conta
A vida vai me passando
E as opiniões mudam de mim...
Oldney Lopes©
A INTRUSA
De repente apareceu você do nada
Deu-me um brilho que eu não tinha até então
De mansinho acomodou-se, viu-se amada
E aninhou-se dentro do meu coração
Deu-me estrelas, fez-se noite enluarada
De uma vida que era breu e solidão
Ressurgiu, dia após dia, em minha estrada
Como um sol iluminando a vastidão
Por eu não poder me dar aos seus carinhos
Eu tentei seguir sozinho os meus caminhos
Com a alma agrilhoada em pranto e dor
Mas sua imagem encarcera-me em prisão
Com algemas que jamais abrir-se-ão
Pois a chave que as trancou se chama amor!
Oldney Lopes ©
sábado, dezembro 08, 2007
ORAÇÃO DE NATAL
(ode às virtudes)
Que no natal
Não faltem sonhos
Já que os sonhos impulsionam nossas vidas
Que no natal
Não falte a educação
Já que, educada, a humanidade prospera
Que no natal
Não falte a caridade
Porque com caridade, cessarão todas as fomes
Que no natal
Não falte o respeito
Porque havendo respeito, a convivência será harmônica
Que no natal
Não falte a fraternidade
Porque irmanados, não faremos guerras
Que no natal
Não falte a solidariedade
Porque solidários, nos fortaleceremos
Que no natal
Não falte dignidade
Vez que, havendo dignidade, seremos, de fato, humanos
Que no natal
Não falte amizade
Porquanto havendo amizade, não haverá solidão
Que no natal
Não falte o perdão
Pois havendo perdão, não haverá vinganças
Que no natal
Não falte a esperança
Pois havendo esperança, buscaremos, constantemente, novas alegrias
Que no natal
Não falte o amor
Pois reinando o amor, o ódio não terá lugar
E que as virtudes se espalhem
Por todos os dias
E por todas as criaturas
Para que todos os dias sejam
Verdadeiramente
Natal.
Amém!
Oldney Lopes ©
POESIA NA INTERNET
Brota do íntimo do coração
Nascente dos mais puros sentimentos
Ventre poético da inspiração
Um verso novo, em pleno nascimento.
Já feito agora córrego sereno
Desliza experimentando sensações
E vai ao cérebro onde em gozo pleno
Transforma-se em palavras e expressões
No movimento mágico dos dedos
Escoa por vertentes eletrônicas
Dos toques no teclado são enredos,
Idéias a pulsarem, ultra-sônicas.
Agora é rio, caudaloso e ágil,
De letras, versos, estrofes em bytes
Na mídia, a um tempo poderosa e frágil
Recebe a luz na vastidão dos sites
Espalha-se na rede, já é mar
Inunda a net em ágeis movimentos
Surge nos monitores, a brilhar
Toma a amplidão do espaço, corta os ventos
E ao penetrar nos olhos dos leitores
Em movimento análogo e inverso
Verte do cérebro, escoa os teores,
Deságua ao coração, formando versos!
Oldney Lopes ©
segunda-feira, junho 11, 2007
O GRITO DO ESPELHO
No casarão antigo
Da memória
Ficou perdida
Num canto embolorado
De algum quarto escuro
A minha infância
Vagando pelo corredor deserto
Procuro-a com ansiedade
Mas em cada cômodo que entro,
Ao transpor cada porta
O que vejo é um espelho
A mostrar-me, impiedoso,
Gritando com seu silêncio,
Que a infância está morta.
Oldney Lopes
DE NOVO, O ESPELHO
Insistentemente,
Ele se põe em minha frente
Tento aboli-lo dos meus versos
Mas ele sempre ressuscita
Na morte das inspirações
E no velório das rimas
É tudo o que há de novo
É tudo o que há, de novo
Mostra-me indagações
Para as quais talvez
Eu não queira respostas
Eu nunca sei se ele está
Gritando verdades doloridas,
Sussurrando ironias atrevidas
Ou bendizendo mentiras desejáveis
Talvez a voz dele
Seja o eco da minha voz
No vazio que há entre nós
Num duelo interminável
Defrontamo-nos:
Ele com imagens
Eu com imaginações
Ele com reflexos
Eu com reflexões
Algum de nós com aparências
Algum de nós com transparências
Do brilho dele contra a minha opacidade
Entre o ilusório e a realidade,
Entre o delírio e a sanidade,
Fantasiamo-nos de rei e plebeu
E eu decreto:
Morte ao espelho,
Que o rei, aqui, sou eu!
Oldney Lopes
Ele se põe em minha frente
Tento aboli-lo dos meus versos
Mas ele sempre ressuscita
Na morte das inspirações
E no velório das rimas
É tudo o que há de novo
É tudo o que há, de novo
Mostra-me indagações
Para as quais talvez
Eu não queira respostas
Eu nunca sei se ele está
Gritando verdades doloridas,
Sussurrando ironias atrevidas
Ou bendizendo mentiras desejáveis
Talvez a voz dele
Seja o eco da minha voz
No vazio que há entre nós
Num duelo interminável
Defrontamo-nos:
Ele com imagens
Eu com imaginações
Ele com reflexos
Eu com reflexões
Algum de nós com aparências
Algum de nós com transparências
Do brilho dele contra a minha opacidade
Entre o ilusório e a realidade,
Entre o delírio e a sanidade,
Fantasiamo-nos de rei e plebeu
E eu decreto:
Morte ao espelho,
Que o rei, aqui, sou eu!
Oldney Lopes
domingo, maio 13, 2007
segunda-feira, março 26, 2007
SOB GRILHÕES
É necessário que a poesia grite
O que o peito arfante geme em vão
Ou que um insano e breve gesto imite
A voz que se aprisiona ao coração
É necessário um rabiscar na areia
Um derramar de tintas pelo chão
Verter todo o vermelho que há na veia
Para expressar com veemência um não
É necessário um caminhar penoso
A lama, o charco, o pantanal lodoso
Rasgar o chão que abre e se incendeia
Pois sendo prisioneiro, sou tinhoso
Se mandam-me tiranos, sou teimoso
E viro sol se apagam-me a candeia
Oldney
O que o peito arfante geme em vão
Ou que um insano e breve gesto imite
A voz que se aprisiona ao coração
É necessário um rabiscar na areia
Um derramar de tintas pelo chão
Verter todo o vermelho que há na veia
Para expressar com veemência um não
É necessário um caminhar penoso
A lama, o charco, o pantanal lodoso
Rasgar o chão que abre e se incendeia
Pois sendo prisioneiro, sou tinhoso
Se mandam-me tiranos, sou teimoso
E viro sol se apagam-me a candeia
Oldney
domingo, março 25, 2007
ENFRENTAMENTO
Não há loucura em atirar-me à luta
Mesmo prevendo trágico desfecho
Nem masoquismo em exaltar derrotas
Quando o que vale é dar-me às tentativas
É que ao perder levo no peito a chaga
Aberta pelas clavas da batalha
Como medalha que ostentada encerra
Os méritos da dor de haver lutado
Prefiro, então o tilintar e os lustres
Das lâminas rasgando vento e derme
E o irreversível golpe de uma espada
Prefiro ser repasto dos abrutres
A adormecer incauto junto aos vermes
Na fria escuridão do eterno nada
Mesmo prevendo trágico desfecho
Nem masoquismo em exaltar derrotas
Quando o que vale é dar-me às tentativas
É que ao perder levo no peito a chaga
Aberta pelas clavas da batalha
Como medalha que ostentada encerra
Os méritos da dor de haver lutado
Prefiro, então o tilintar e os lustres
Das lâminas rasgando vento e derme
E o irreversível golpe de uma espada
Prefiro ser repasto dos abrutres
A adormecer incauto junto aos vermes
Na fria escuridão do eterno nada
.
Oldney
.
foto: "ZOINHO - 10 ANOS" , MENINO DE RUA ENFRENTA POLICIAS EM CONFRONTO - PRÊMIO ESSO 2005. Autor: Evandro Monteiro. Disponível em: http://www.olhares.com/menino_de_rua_desafia_a__policia_em_sao_paulo/foto66330.html. Acessado em 25/03/2007.
segunda-feira, março 12, 2007
Sei que o sol irá se pôr. Que o tempo passa, invariavelmente. Que o anoitecer é inevitável. Todavia, ao sonhar, percebo que cada sonho representa uma nova manhã.
Houve uma época, na aurora da minha vida, em que sonhava sonhos impossíveis. Não distantes. Impossíveis. Sonhava-os com a certeza de que seriam realizados. Houve uma época em que, inocentemente, imaginava ser viável um mundo sem maldades, uma vida sem dores, uma sociedade sem brigas, uma existência sem lágrimas. Corri atrás desses sonhos. Investi neles meu tempo, meu vigor, minhas forças, minhas convicções. Percorri os dias mágicos da infância, os anos turbulentos da adolescência, as décadas pesadas da idade adulta. Hoje, nos séculos filosofais da maturidade, percebo que toda a ciência que pude colecionar, e que é quase nada, embora seja imensa, não conseguiu esfacelar meus sonhos. É que agora, não tão inocentemente quanto antes, ainda sonho com aqueles dias cantados e encantados por Lennon em "Imagine". Fico pensando se o encanto irá se quebrar na velhice. Creio que não. Creio, mesmo, que a velhice jamais chegará, pois é essa tola e bendita insistência em sonhar sonhos impossíveis que me faz prosseguir como uma criança, que trota numa vassoura acreditando ser o heróico cavaleiro do conto de fadas. Prefiro acreditar, então, que são sonhos distantes, porque, enquanto pensar assim, continuarei a persegui-los e a investir meu tempo, meu vigor, minhas forças, minhas convicções.
E como esse tipo de sonho parece não ser coisa de pessoas maduras, é minha infância que não acabou. É minha vida que, embora tenha andado a largos passos, continua no princípio. É a sábia conveniência da certeza de que o sol irá se pôr um dia, mas a aurora da vida deverá durar por toda a existência...
Oldney Lopes
Houve uma época, na aurora da minha vida, em que sonhava sonhos impossíveis. Não distantes. Impossíveis. Sonhava-os com a certeza de que seriam realizados. Houve uma época em que, inocentemente, imaginava ser viável um mundo sem maldades, uma vida sem dores, uma sociedade sem brigas, uma existência sem lágrimas. Corri atrás desses sonhos. Investi neles meu tempo, meu vigor, minhas forças, minhas convicções. Percorri os dias mágicos da infância, os anos turbulentos da adolescência, as décadas pesadas da idade adulta. Hoje, nos séculos filosofais da maturidade, percebo que toda a ciência que pude colecionar, e que é quase nada, embora seja imensa, não conseguiu esfacelar meus sonhos. É que agora, não tão inocentemente quanto antes, ainda sonho com aqueles dias cantados e encantados por Lennon em "Imagine". Fico pensando se o encanto irá se quebrar na velhice. Creio que não. Creio, mesmo, que a velhice jamais chegará, pois é essa tola e bendita insistência em sonhar sonhos impossíveis que me faz prosseguir como uma criança, que trota numa vassoura acreditando ser o heróico cavaleiro do conto de fadas. Prefiro acreditar, então, que são sonhos distantes, porque, enquanto pensar assim, continuarei a persegui-los e a investir meu tempo, meu vigor, minhas forças, minhas convicções.
E como esse tipo de sonho parece não ser coisa de pessoas maduras, é minha infância que não acabou. É minha vida que, embora tenha andado a largos passos, continua no princípio. É a sábia conveniência da certeza de que o sol irá se pôr um dia, mas a aurora da vida deverá durar por toda a existência...
Oldney Lopes
domingo, fevereiro 18, 2007
TIESPERO
Eu me apego à esperança de dares
Teu amor para o meu coração
E respiro, por todos os ares
Esse amor com paixão, compaixão
Pois espero me dês de presente
No presente um futuro de a-dois
Um amor pra viver loucamente
Nosso tempo diagora-e-depois
Tiamarei, miamarás todavida
Tiadorando o ficar-a-teulado
Declinando o caminho da lida:
O meu mais-que-perfeito passado.
Mas, incauta e insensível, conjugas
Com desdém o verbo nãotiquero
E, teimoso, ignoro tuas fugas,
E tiespero, tiespero, tiespero.
É assim que conjugo, sozinho
O infinito do verbo “tiamar”
Na primeira e única pessoa
Do mais-que-singular.
Oldney
Teu amor para o meu coração
E respiro, por todos os ares
Esse amor com paixão, compaixão
Pois espero me dês de presente
No presente um futuro de a-dois
Um amor pra viver loucamente
Nosso tempo diagora-e-depois
Tiamarei, miamarás todavida
Tiadorando o ficar-a-teulado
Declinando o caminho da lida:
O meu mais-que-perfeito passado.
Mas, incauta e insensível, conjugas
Com desdém o verbo nãotiquero
E, teimoso, ignoro tuas fugas,
E tiespero, tiespero, tiespero.
É assim que conjugo, sozinho
O infinito do verbo “tiamar”
Na primeira e única pessoa
Do mais-que-singular.
Oldney
segunda-feira, fevereiro 12, 2007
FERIDADE
“Põe-me onde se usa toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles posso achar a piedade
Que entre peitos humanos não achei”
(Camões – Os Lusíadas – Episódio de Inês de Castro)
Arrastado em alta velocidade
Pelo asfalto do chão da estupidez
É meu próprio coração que sangra
É meu próprio peito que sofre
É minha alma que clama por socorro
Sou eu que morro.
Atada ao desapiedado nó da perversidade
Quem sofreu? Quem penou? Quem morreu?
Presa ao cinto da crueldade insana,
Quem jaz? Eu?
Quem jazeu foi a dignidade humana!
Oldney
Entre leões e tigres, e verei
Se neles posso achar a piedade
Que entre peitos humanos não achei”
(Camões – Os Lusíadas – Episódio de Inês de Castro)
Arrastado em alta velocidade
Pelo asfalto do chão da estupidez
É meu próprio coração que sangra
É meu próprio peito que sofre
É minha alma que clama por socorro
Sou eu que morro.
Atada ao desapiedado nó da perversidade
Quem sofreu? Quem penou? Quem morreu?
Presa ao cinto da crueldade insana,
Quem jaz? Eu?
Quem jazeu foi a dignidade humana!
Oldney
Um desabafo, por Sônia Prazeres
"Quem foi arrastado com Hélio?Quantos de nós ainda rola pela avenida atado ao sinto-vergonha, derramando um tanto mais de vida?Quantos de nós vai fazer a via sacra e conseguir entrar em casa junto com os pais de Hélio? Sem sobras de nada no peito, arfante de agonia e oco de indignação, de sentimento da real inutilidade, sento, repenso, escrevo, e deságuo o vexame de saber que continuamos somente sendo como gado. Vivemos, pastamos, comemos, nos embebedamos e alimentamos os donos para que tenham sempre mesa farta. Tanto faz se nosso destino é o matadouro...tanto faz se voltamos às feras, aos círculos romanos, se nos matamos em arenas-estádios de futebol como animais, ou se nos arrastam como nas antigas bigas. Importa é que vem carnaval e se morreu Helio, se morremos mais um tanto, afinal, tudo vai virar pizza, samba e passarela, ópio e bebida.Com perdão da amargura, já faz dias que pulsa uma hemorragia a mais neste peito a mais."
Sônia Prazeres
Sônia Prazeres
QUEBRAMAR
A ciência é rocha
A sabedoria é onda
E o vento?
É muralha em movimento
Pensamento em revolução
Tentando jogar-me
Na rocha firme da certeza
E eu resistindo
E insistindo
Em permanecer
Nas ondas revoltas
Do mar bravio
Da dúvida eterna
A sabedoria é onda
E o vento?
É muralha em movimento
Pensamento em revolução
Tentando jogar-me
Na rocha firme da certeza
E eu resistindo
E insistindo
Em permanecer
Nas ondas revoltas
Do mar bravio
Da dúvida eterna
Pois sei que
No terreno da verdade absoluta
Não terei mais para onde ir.
Oldney
foto: "quantas lágrimas tuas estão aqui?", de Luis Filipe Cabaco. Disponível em: http://www.olhares.com/quantas_lagrimas_tuas_estao_aqui/foto1034383.html. Acessada em 12/02/2007.
quarta-feira, janeiro 31, 2007
ORFANDADE
Ai, esse fado, esse fardo!
Quantas mães eu tenho a dar-me à luz?
Quantas dão-me ervas, dão-me cruz?
Sinto-me, entretanto, vil, bastardo!
Ai, esse fado, esse fardo!
Ai, essa flexa, essa pecha!
Quais avós disputam-me, atrozes?
Quantas línguas dão-me suas vozes?
Quantas cores tenho, em cada mecha?
Ai, essa flecha, essa pecha!
Ai, essa dança, essa lança!
Quantos atabaques batucar?
Quantos bravos mares navegar?
Pero, vai, camiña, i non alcança...
Ai, essa dança, essa lança!
Ai, esse euro, esse ouro!
Quanto chão eu planto, e o fruto some!
Quanto pão fabrico, e passo fome!
Quanto sou arado, sou laboro!
Ai, esse euro, esse ouro!
Ai, minha mãe ingratérrima,
Ai, minha mãe portugália,
Ai, minha mãe menininha,
Quem me tinha? Quem me tinha? Quem me tinha?
Ai, minha mãe portunhola,
Ai, minha mãe euroásia,
Ai, minha mãe Pindorama,
Quem me ama? Quem me ama? Quem me ama?
Ai, tantas mães que me querem
Ai, madrastas que me ferem
Ai, quero a mãe língua-pátria!
Ai, minha mãe que me usa
Que me manda, que me abusa,
Dá-me a luz,
Dá-me à luz,
Dá-me à lusa!
Oldney
Pueril
Teu perfil
Tão sutil
Colorido
E garrido
No pomar
A brilhar
Amanhã
De manhã
Vem aqui
Me acordar
Quero ouvir
Teu cantar
Pousa aqui
Bem-te-vi
Oldney
foto: "Bem-te-vi", de Júlio Fernandes. Disponível em: http://www.olhares.com/bem_te_vi/foto537210.html. Acesso em 31 de janeiro de 2007.
terça-feira, janeiro 30, 2007
AMBISONHOS
AMBISONHOS
Junte ímpetos e caprichos
Gulas e ânsias
Ganas e ganâncias
Monte uma escada
E suba para o nada.
Junte ímpetos e caprichos
Gulas e ânsias
Ganas e ganâncias
Monte uma escada
E suba para o nada.
Oldney
foto: "Stairs II", de Miguel Delgado e Silva. Disponível em: http://www.olhares.com/stairs_ii/foto895237.html. Acesso em 30 de janeiro de 2007.
segunda-feira, janeiro 29, 2007
CHÃO DE NUVENS
CHÃO DE NUVENS
Eram de pedra os sonhos que eu sonhava
Firmes e fortes como rocha imensa
Eram matéria sólida e tão densa
Quanto era fraco o chão em que eu pisava
Um edifício sólido e seguro
De rochas firmes eu tentava erguer
Sem, no entanto, sequer perceber
O chão onde eu plantava o meu futuro
E vi que era no céu que eu erigia
Todo o porvir e toda fantasia
E fico perguntando o que restou
O que sumiu, o que ficou faltando?
O chão de nuvens, que pisei sonhando...
O céu de pedras, que desmoronou!
Oldney
foto: "Caminhando para um sonho...", de Anabel Lee. Disponível em: http://www.olhares.com/caminhando_para_um_sonho/foto810798.html. (acessado em 29 de janeiro de 2007)
domingo, janeiro 28, 2007
OS PALHAÇOS
OS PALHAÇOS
Nesse céu sereno em que te encontras
Nesse mar de calma e de tranqüilidade
Nessas alturas de onde tudo vês
Dessas vertiginosas altitudes
Em que tens a teus pés homens e mulheres
Quem fitas?
A quem abençoas?
Para quem abres os braços?
Miras, porventura, o mar de infortúnio?
Enxergas o rio de sangue que escorre no asfalto quente?
Vês a torrente de suor e lágrimas que vertem no chão de fábrica?
No solo em que pisamos e vivemos
A serenidade sobrevoa, e só proporciona sombras
A calma e a tranqüilidade dão lugar à iniqüidade e ao desespero
Do nosso chão, o que vemos, o que temos, o que lemos?
É o agito que domina
É a tirania que impera
É o trabalho forçado que impõe
É o medo que ronda
É a encosta que desmorona
É a cratera que se abre
É a avenida inundada
É o dinheiro que falta
É a fome que sobra
Da altura em que te encontras,
Ergueste a tenda embocada para o solo
Nesse céu sereno em que te encontras
Nesse mar de calma e de tranqüilidade
Nessas alturas de onde tudo vês
Dessas vertiginosas altitudes
Em que tens a teus pés homens e mulheres
Quem fitas?
A quem abençoas?
Para quem abres os braços?
Miras, porventura, o mar de infortúnio?
Enxergas o rio de sangue que escorre no asfalto quente?
Vês a torrente de suor e lágrimas que vertem no chão de fábrica?
No solo em que pisamos e vivemos
A serenidade sobrevoa, e só proporciona sombras
A calma e a tranqüilidade dão lugar à iniqüidade e ao desespero
Do nosso chão, o que vemos, o que temos, o que lemos?
É o agito que domina
É a tirania que impera
É o trabalho forçado que impõe
É o medo que ronda
É a encosta que desmorona
É a cratera que se abre
É a avenida inundada
É o dinheiro que falta
É a fome que sobra
Da altura em que te encontras,
Ergueste a tenda embocada para o solo
No coração do país
Mas nós, os palhaços,
Fomos deixados do lado de fora:
O picadeiro são as nossas vidas
E tu, que sobrevoas os céus
E pousas no planalto,
Sobes à tribuna,
E recitas o teu sermão:
Abençoados sejam os palhaços
Porque a eles serão dados pão e circo.
Oldney Lopes
Mas nós, os palhaços,
Fomos deixados do lado de fora:
O picadeiro são as nossas vidas
E tu, que sobrevoas os céus
E pousas no planalto,
Sobes à tribuna,
E recitas o teu sermão:
Abençoados sejam os palhaços
Porque a eles serão dados pão e circo.
Oldney Lopes
foto: "vista noturna do Rio", de Ricardo Zerrenner, disponível em: http://www.olhares.com/vista_noturna_do_rio/foto974605.html
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Oldney Lopes - Poeta
- Oldney Lopes
- Mineiro, poeta, economiário, graduado em Letras, psicopedagogo, orientador de finanças pessoais.