sábado, junho 26, 2010

PÍNCARO


PÍNCARO

De repente ela havia ficado em dúvida entre a cama e a mesmice. E enquanto tremia de ansiedade e nervosismo e medo do desconhecido e intuição de alguma inesperada ameaça, foi deixando-se levar e levada descobriu que a cama era nuvens, e simplesmente abandonou-se a um mágico flutuar. Marejava gotículas orvalhadas de prazer e então parou de se intimidar e permitiu-se sedar e abrandar e acaridar e acirandar e trepidar e transbordar... Sonhadora, submergiu no lago da noite dos contos de fadas e não queria mais acordar.  Ofegante, subiu ao cimo de uma cumulus nimbus da qual não desejava mais sair, mas teve que descer. Quando voltou para a vida real, era peso de chumbo nos ombros e aperto no peito e a força da gravidade a grudá-la no chão que lhe faltava. Era ânsia e tremor no coração, e letargia e temor na mente, e a gravidade daquele enjôo e daqueles séculos de atraso. Foi assim, tremendo e temendo, que atravessou vazios como se estivesse despencando num abismo até o baque do tremendo susto: o teste gritava aos seus olhos o que a alma recusava-se a imaginar. Procurado, o príncipe virou sapo, e depois monstro ameaçador, e depois pessoa desaparecida. O rei que era todo desvelo pela princesa transfigurou-se num Gigante Adamastor e renegou-a. O lar de aconchego e segurança tornou-se ambiente inóspito e hostil. Quem disse que precisa sofrer e se acabar porque tudo vai mal e já não há amor e já não há proteção e já não há família e já não há lar? Quem disse? Chorou sim, rios de lágrimas que viraram mares de superações e de super ações. Pois se já não há lar, que se ouse alar. E foi sozinha mesmo, foi fora de casa mesmo, foi de abrigo em abrigo mesmo, de amigo em amigo mesmo, que transpôs quarenta luas de atávicos desejos e absolutas convicções e persistências para elevar-se à constelação das estrelas que brilham para sempre e encantam a vida da gente por serem mais que gente, mais que todo mundo, mais que todos os mundos e todas as luas, por serem simplesmente mais. Por serem simplesmente mães.

Oldney Lopes©

sábado, maio 22, 2010

MEA-CULPA



MEA-CULPA

Insensato no que digo, eis meu inferno,
Impetuoso na forma em que me expresso
Vou morrendo nos rompantes em que externo
Meus recônditos anseios, meus excessos.

Por guardar dentro do peito um sentimento
Um desejo de tamanha intensidade
Foi que cedi à insensatez, num vil momento,
E me matam minha culpa e veleidade.

Morro ainda mais por arrependimentos
Do que pelos sentimentos que me instigam
Duelam, dentro de mim, dois pensamentos
De ternura e de avidez que sempre brigam.

Vou, sem corretivos que desfaçam gestos,
Engolindo o fel deste arrependimento
Digerindo os erros, deglutindo os restos
Da perversão que engendrei e ora lamento.

Pois não há qualquer pedido de perdão
Que logre justificar o que foi feito
Nem borracha que desmanche um tal borrão
Nem lenitivo que me sane a dor do peito.

É na tolice já feita que reside
A vergonha que encarcera-me e devora
A luz que já brilhou, e turba-me a lide
Em que o ontem vai tragando o meu agora.

Foi movido por paixão inveterada
Por intenso turbilhão excitativo
Que irrompi verbologia imoderada
E sou presa da recordação que vivo.

Eu cravei no sonho lânguido um punhal
Que me leva a cometer, entristecido,
Suicídio de um romance angelical
Que no meu peito jazeu sem ter nascido!


Oldney Lopes©

quinta-feira, maio 13, 2010

ORAÇÃO DO ABRAÇO


ORAÇÃO DO ABRAÇO


Há braços fortes para que se dê
Abraços fortes entre outro e você.
Abrace sempre, e haverá de ter
De Deus abraços a lhe proteger.

Unamos, nos abraços, os vigores,
E nos abraços repartamos dores.
É neste gesto de aproximação
Que coração bate com coração.

Que a cada dia brotem alegrias,
Nascidas dos abraços de amizade,
E a Paz abrace toda a humanidade.

Sejamos gratos por viver os dias
Num mundo encantador no qual há braços
Dispostos a unirem-se em abraços!
Oldney Lopes©

terça-feira, maio 04, 2010

MORRER DIVERSOS



Morri estando vivo no vazio
Pela idéia que já nasce bloqueada
É quando a mente, ansiosa, está no cio
E as mãos, pesadas, não escrevem nada

E morro ainda mais quando é estiagem
Que domina a minha alma desbotada
Sem solo fértil, sem qualquer aragem
Nenhuma idéia brota: a mente é nada

Não há receio de morrer um dia
Mas de viver sem rima e sem poesia
Pois morro é pelo que jamais vivi

Morro de idéias pra sempre perdidas
Morro de escritas que não serão lidas
Morro dos versos que nunca escrevi.

Oldney Lopes©

domingo, maio 02, 2010

CANTIGA DE BEMQUERER


(TRATADO DE ACORDAR)

Quero fazer com você
Um tratado de bem-querer
Negócio de amor e êxtase
Contrato de ser feliz

Eu te dou meu sentimento
Participo com sorrisos
Entro com afagos e beijos
Com minha alma apaixonada
O corpo pleno de anseios
E o coração de esperança

Entro com toda bondade
O tempo da eternidade
A suavidade das nuvens
O brilho de ouro do sol

Assim, se eu merecer
Você vai me amanhecer
Fazer da vida cinzenta
Tratado de a cor dar

Basta você me querer:
Levo todo o meu amor
Ofereço o meu licor
O vinho do meu prazer

Você participa de graça
Traz apenas sua taça      
Pois tudo o que quero é você!
 
Oldney Lopes©

terça-feira, fevereiro 02, 2010

BEIJO



Lábios que tocam lábios, sutilmente,
Um breve instante em lampejos de emoções
Calor do encontro de dois corações
Imantados lábios, doce e ternamente,
A impregnar-me com seu doce, eternamente...

Oldney Lopes©

Oldney Lopes - Poeta

Minha foto
Mineiro, poeta, economiário, graduado em Letras, psicopedagogo, orientador de finanças pessoais.
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