segunda-feira, março 26, 2007

SOB GRILHÕES

É necessário que a poesia grite
O que o peito arfante geme em vão
Ou que um insano e breve gesto imite
A voz que se aprisiona ao coração

É necessário um rabiscar na areia
Um derramar de tintas pelo chão
Verter todo o vermelho que há na veia
Para expressar com veemência um não

É necessário um caminhar penoso
A lama, o charco, o pantanal lodoso
Rasgar o chão que abre e se incendeia

Pois sendo prisioneiro, sou tinhoso
Se mandam-me tiranos, sou teimoso
E viro sol se apagam-me a candeia

Oldney

domingo, março 25, 2007

"A flor vencerá o canhão
se houver justeza na causa
se houver pureza na alma
e firmeza na intenção"

Oldney

ENFRENTAMENTO



Não há loucura em atirar-me à luta
Mesmo prevendo trágico desfecho
Nem masoquismo em exaltar derrotas
Quando o que vale é dar-me às tentativas

É que ao perder levo no peito a chaga
Aberta pelas clavas da batalha
Como medalha que ostentada encerra
Os méritos da dor de haver lutado

Prefiro, então o tilintar e os lustres
Das lâminas rasgando vento e derme
E o irreversível golpe de uma espada

Prefiro ser repasto dos abrutres
A adormecer incauto junto aos vermes
Na fria escuridão do eterno nada
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Oldney
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foto: "ZOINHO - 10 ANOS" , MENINO DE RUA ENFRENTA POLICIAS EM CONFRONTO - PRÊMIO ESSO 2005. Autor: Evandro Monteiro. Disponível em: http://www.olhares.com/menino_de_rua_desafia_a__policia_em_sao_paulo/foto66330.html. Acessado em 25/03/2007.

segunda-feira, março 12, 2007

Sei que o sol irá se pôr. Que o tempo passa, invariavelmente. Que o anoitecer é inevitável. Todavia, ao sonhar, percebo que cada sonho representa uma nova manhã.
Houve uma época, na aurora da minha vida, em que sonhava sonhos impossíveis. Não distantes. Impossíveis. Sonhava-os com a certeza de que seriam realizados. Houve uma época em que, inocentemente, imaginava ser viável um mundo sem maldades, uma vida sem dores, uma sociedade sem brigas, uma existência sem lágrimas. Corri atrás desses sonhos. Investi neles meu tempo, meu vigor, minhas forças, minhas convicções. Percorri os dias mágicos da infância, os anos turbulentos da adolescência, as décadas pesadas da idade adulta. Hoje, nos séculos filosofais da maturidade, percebo que toda a ciência que pude colecionar, e que é quase nada, embora seja imensa, não conseguiu esfacelar meus sonhos. É que agora, não tão inocentemente quanto antes, ainda sonho com aqueles dias cantados e encantados por Lennon em "Imagine". Fico pensando se o encanto irá se quebrar na velhice. Creio que não. Creio, mesmo, que a velhice jamais chegará, pois é essa tola e bendita insistência em sonhar sonhos impossíveis que me faz prosseguir como uma criança, que trota numa vassoura acreditando ser o heróico cavaleiro do conto de fadas. Prefiro acreditar, então, que são sonhos distantes, porque, enquanto pensar assim, continuarei a persegui-los e a investir meu tempo, meu vigor, minhas forças, minhas convicções.
E como esse tipo de sonho parece não ser coisa de pessoas maduras, é minha infância que não acabou. É minha vida que, embora tenha andado a largos passos, continua no princípio. É a sábia conveniência da certeza de que o sol irá se pôr um dia, mas a aurora da vida deverá durar por toda a existência...

Oldney Lopes

Oldney Lopes - Poeta

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Mineiro, poeta, economiário, graduado em Letras, psicopedagogo, orientador de finanças pessoais.
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