sexta-feira, novembro 24, 2006

SÉTIMO SENTIDO



Cinco sentidos nós temos vivido
Cinco sentidos a nos dar sentido
Talvez um sexto: a nossa intuição
Dizendo mais que diz toda a razão.

Se não crês, entretanto, em veleidades
E se te apraz só materialidades
Abre a janela, numa aurora, um dia
Toma de um livro e lê uma poesia.

Mas, se, ainda assim, a vista faz-se escura,
E tens na boca o travo da amargura,
Ouve o poema que esta aurora canta

Sente o calor do sol que se levanta
O olor do ar que sopra com ternura
E vê que a vida é poesia pura!

Oldney

quarta-feira, novembro 01, 2006

SONETO DA INSENSATEZ


É triste o ser humano sem poesia
Que passa pela vida e não a sente
E tem a mente douta e a alma fria,
Metálica, vazia, dura, ausente.

É triste o ser humano sem poesia
Que traz no peito pedra e ferro e breu
Oceano impessoal de bastardia
Que estando vivo e novo, já morreu.

Insana flor que não escuta o vento
Não olha o sol, nem sente o seu alento
Não vê que o tempo passa e vem o fim

Pois tendo o alvorecer e o sol poente
E o pássaro a beijá-la docemente
Ignora a beleza do jardim.

Oldney

SONETO PARA BANDEIRA


Vomimbora, meu Bandeira, vomimbora
Pra Pasárgada, levar minha bandeira
Vou sair sem dar bandeira, a qualquer hora
Vou levando minha língua na algibeira

Vomimbora, meu Bandeira, prum lugar
Onde eu fale o que quiser e quando queira
Onde a fala é sem fronteira: é só falar
Sem gramática de língua brasileira

Vomimbora pra Pasárgada, Bandeira
Porque lá eu também sou do rei amigo
Escrever eu vou sem regras, como digo,

Minhas falas serão sempre alvissareiras:
Língua é cúmplice, bandeira, e não senhora
Vomimbora, meu Bandeira, vomimbora!


Oldney

SONETO PARA BILAC


VERSOS PLENOS

"O pensamento ferve, e é um turbilhão de lava
A forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,
Que, perfume e clarão, refulgia e voava."
(Olavo Bilac)


Converso, “inania verba”, com Bilac:
Eu falo em decassílabos modestos
Junto meus pensamentos, cato restos,
Formo “instrumenta sceleris” de ataque.

Em dodecassilábico argumento
Ouço a grandeza das suas palavras
Que de sua alma potente são escravas
E no meu mouco ouvido são fermentos

E a ira muda? O desespero muda?
(Palavra proferida, alma desnuda!)
O corpo sente, e tem, no verbo, alento:

A mão que escreve mais que diz a boca
E o coração que pensa, em fúria louca,
Mais do que pensa o próprio pensamento.

Oldney Lopes

Oldney Lopes - Poeta

Minha foto
Mineiro, poeta, economiário, graduado em Letras, psicopedagogo, orientador de finanças pessoais.
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