domingo, janeiro 28, 2007

OS PALHAÇOS


OS PALHAÇOS

Nesse céu sereno em que te encontras
Nesse mar de calma e de tranqüilidade
Nessas alturas de onde tudo vês
Dessas vertiginosas altitudes
Em que tens a teus pés homens e mulheres
Quem fitas?
A quem abençoas?
Para quem abres os braços?

Miras, porventura, o mar de infortúnio?
Enxergas o rio de sangue que escorre no asfalto quente?
Vês a torrente de suor e lágrimas que vertem no chão de fábrica?

No solo em que pisamos e vivemos
A serenidade sobrevoa, e só proporciona sombras
A calma e a tranqüilidade dão lugar à iniqüidade e ao desespero
Do nosso chão, o que vemos, o que temos, o que lemos?

É o agito que domina
É a tirania que impera
É o trabalho forçado que impõe
É o medo que ronda
É a encosta que desmorona
É a cratera que se abre
É a avenida inundada
É o dinheiro que falta
É a fome que sobra

Da altura em que te encontras,
Ergueste a tenda embocada para o solo
No coração do país
Mas nós, os palhaços,
Fomos deixados do lado de fora:
O picadeiro são as nossas vidas

E tu, que sobrevoas os céus
E pousas no planalto,
Sobes à tribuna,
E recitas o teu sermão:

Abençoados sejam os palhaços
Porque a eles serão dados pão e circo.

Oldney Lopes
foto: "vista noturna do Rio", de Ricardo Zerrenner, disponível em: http://www.olhares.com/vista_noturna_do_rio/foto974605.html

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Oldney Lopes - Poeta

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Mineiro, poeta, economiário, graduado em Letras, psicopedagogo, orientador de finanças pessoais.
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